top of page

Teoria do medalhão (Machado de Assis)

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Hoje estreamos o #lendocontonaquinta aqui no blog. Esse projeto de incentivo à leitura de contos era realizado no Instagram na página de mesmo nome, mas resolvi traze-lo para cá.


A ideia é toda quinta-feira  apresentar para vocês a resenha de um conto de autores variados e com isso te despertar o interesse por esse gênero.


Você poderá localizar os contos na categoria Lendo Conto na Quinta.


E para iniciarmos com chave de ouro, hoje trouxe o conto Teoria do Medalhão de Machado de Assis publicado em 1881 na coletânea Papéis avulsos.



Machado de Assis trabalhou em diversas obras uma percepção que é muito nossa ainda nos tempos de hoje: o detrimento do homem em favor de uma imagem social. O indivíduo em essência não vale tanto quanto uma aparência.


Esse é o contexto desse e de outros contos do autor como em O espelho, por exemplo.


Em Teoria do medalhão temos um diálogo entre pai e filho,  onde o pai aconselha o rapaz a ser um medalhão, uma carreira muito promissora na sociedade brasileira.


Mas do que você precisa para se tornar um Medalhão?


1) Não tenha ideias. Se por acaso as tiver, não divulgue-as;


"Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas ideias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente" .


2) Não tenha opiniões próprias e fale somente de assuntos superficiais;


" Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro tanto à fidelidade com que repetes numa sala as opiniões ouvidas numa esquina, e vice-versa, porque esse fato, posto indique certa carência de ideias, ainda assim pode não passar de uma traição da memória. Não; refiro-me ao gesto correto e perfilado com que usas expender francamente as tuas simpatias ou antipatias acerca do corte de um colete, das dimensões de um chapéu, do ranger ou calar das botas novas. Eis aí um sintoma eloquente, eis aí uma esperança."


3) Não ande sozinho. A solidão ativa a capacidade de pensar . Porém,  esteja sempre com pessoas que compartilhem das mesmas opiniões;


" O bilhar é excelente. — Como assim, se também é um exercício corporal? — Não digo que não, mas há coisas em que a observação desmente a teoria. Se te aconselho excepcionalmente o bilhar é porque as estatísticas mais escrupulosas mostram que três quartas partes dos habituados do taco partilham as opiniões do mesmo taco."


4) Vá pelo senso comum;


" As livrarias, ou por causa da atmosfera do lugar, ou por qualquer outra razão que me escapa, não são propícias ao nosso fim; e, não obstante, há grande conveniência em entrar por elas, de quando em quando, não digo às ocultas, mas às escâncaras. Podes resolver a dificuldade de um modo simples: vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer coisa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores habituais das belas crônicas de Mazade; 75 por cento desses estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e uma tal monotonia é grandemente saudável."


5) Troque o conhecimento por ações simples. Afinal, você não precisa saber de nada desde que achem que você sabe.


"O verdadeiro medalhão tem outra política. Longe de inventar um Tratado científico da criação dos carneiros, compra um carneiro e dá-o aos amigos sob a forma de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente aos seus concidadãos."


6) Abuse da publicidade. Procure que falem sempre de ti;


"Uma notícia traz outra; cinco, dez, vinte vezes põe o teu nome ante os olhos do mundo. Comissões ou deputações para felicitar um agraciado, um benemérito, um forasteiro, tém singulares merecimentos, e assim as irmandades e associações diversas, sejam mitológicas, cinegéticas. ou coreográficas. Os sucessos de certa ordem, embora de pouca monta, podem ser trazidos a lume, contanto que ponham em relevo a tua pessoa. Explico-me. Se caíres de um carro, sem outro dano, além do susto, é útil mandá-lo dizer aos quatro ventos, não pelo fato em si, que é insignificante, mas pelo efeito de recordar um nome caro às afeições gerais. Percebeste?"


7) E finalmente....


"Fuja a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc, etc."

513 visualizações2 comentários

Posts recentes

Ver tudo

Proust contista

2 Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
patriciamilanis
patriciamilanis
Jan 16, 2024

Ler contos é algo que gosto muito, foi através deles que consegui consolidar meu hábito de leitura.

Nessa caminhada conheci muitos contos de Machado, inclusive este do post.

Parabéns pelo projeto, acho ótimo 👏👏


Like
Replying to

Obrigada amiga e obrigada pela presença de sempre aqui no blog

Like
bottom of page