A poesia, para mim, é um refúgio. Quando o mundo parece cinza demais, a poesia surge em minha vida para trazer beleza, aconchego e prazer. Sim! É prazeroso ler poesia, só é preciso estar aberto à experiência e mesmo a poesia parnasiana, tão acusada de excessos de formalismos e artificialidades.
Nem tudo precisa ser lido para aprendizado. Também é permitido ler para se encantar, para apreciar um belo texto , ou como dizia Rubem Alves, para saborear.
Quando iniciei a leitura de "Tarde" , fui surpreendida. Acostumada a ouvir que a poesia parnasiana (escola literária a qual pertencia Olavo Bilac, autor da obra em questão) era vazia de conteúdo, fria e escrita com um certo distanciamento emocional, me peguei lendo textos que falam sobre o amor, a velhice , a solidão, o tédio, de uma forma difícil, uma vez que os parnasianos optavam pela linguagem rebuscada, mas não impassível.
Os poemas não possuem um sentimentalismo gratuito. Aliás , os parnasianos eram contra qualquer tipo de exageros que pudessem os aproximar dos românticos. Eles contestavam o romantismo que para eles eram poemas sem métrica, sem musicalidade e sem técnica.
O livro é composto por 99 sonetos (forma lírica preferida pelos parnasianos , herança clássica dos italianos do Renascimento), dos quais 84 estão presentes nessa edição.
O soneto é um poema lírico de quatorze versos. Na obra de Bilac, o autor opta pelos versos alexandrinos: versos decassílabos heróicos porque as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima. A língua portuguesa tem em Camões sua grande referência.
A poesia parnasiana prezava pela metrificação rigorosa, uso de rimas ricas , valorizava a precisão absoluta e buscava a perfeição técnica. Isso fez com que a estética parnasiana fosse baseada na doutrina da "arte pela arte". Para alguns críticos, esse excesso de técnica prejudicava o conteúdo.
Por não ser uma poesia engajada, que tratasse dos problemas socias de sua época, era considerada uma arte da elite, descolada da realidade das massas, mas a poesia parnasiana teve uma grande aceitação popular, e influenciou outras artes como a música, a exemplo da valsa "Rosa" de Pixinguinha que foi composta de forma esmerada e parnasiana por Otávio de Souza que era um mecânico de profissão. Mesmo após o seu declínio, canções como "O mundo é um moinho " de Cartola (outro compositor popular, sem estudos e que era lavador de carros), há ecos de parnasianismo.
O parnasianismo é uma estética de final de século XIX e início de século XX. Foi duramente criticado pelos modernistas, especialmente por Mário de Andrade em seu texto "Aos mestres do passado", o que acabou por influenciar a literatura brasileira e fez com que os leitores vissem a poesia parnasiana com ar de negatividade.
Eram chamados "poetas - ourives ", polindo a pedra preciosa (os versos) até encontrar a jóia perfeita. Para os parnasianos, a poesia não era apenas fruto da inspiração do autor, mas de um árduo trabalho de lapidação.
Tarde, obra de publicação póstuma de Olavo Bilac (1919), teve sua redação concluída no ano de sua morte (1918).
Seu título nos sugere o fim do dia, mas também simboliza o fim da vida. Esse tom crepuscular está presente em grande parte dos poemas.
Os poemas trazem temas como o amor, a Pátria, a velhice, a solidão, o tédio, a metalinguagem, a mitologia, a exaltação da beleza feminina, entre outros.
Por fim, gostaria de deixar a indicação de cinco poemas que estão entre os meus favoritos : Dualismo, Inocência, Abstração, Fogo - fátuo e Língua portuguesa.
Amiga pra mim ler poesia é também um desafio, um bom desafio eu diria.