Já comentei aqui no blog sobre "Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke e durante essa leitura lembrei-me bastante de outra obra que li há alguns anos, mas que tem bastante similaridade com o livro do Rilke, "Cartas a um jovem escritor e suas respostas" de Fernando Sabino e Mário de Andrade. Já tem post sobre ele aqui.
Ambos os livros são uma troca de correspondências entre um aspirante a escritor /poeta e um autor já reconhecido nesse ofício, pedindo conselhos sobre o seu fazer artístico e o seu futuro como artista.
Um dos conselhos que tanto Rilke dá a Franzz Kappus quanto Mário de Andrade dá a Fernando Sabino é sobre as leituras consideradas imprescindíveis.
Para Rainer Maria Rilke, o poeta dinamarquês Jens Peter Jacobsen é a grande referência e para Mário de Andrade, escritores como Camões, Cervantes, Shakespeare, entre outros, estão na lista de leituras indispensáveis.
E tanto Rilke quanto Mário consideram a Bíblia um livro essencial.
Vem conhecer as indicações desses grandes mestres:
Rilke : "De todos os meus livros, só alguns poucos são imprescindíveis, e dois estão sempre entre as minhas coisas, onde quer que eu esteja. Estão aqui comigo agora: a Bíblia e os livros do grande poeta dinamarquês Jens Peter Jacobsen.(...) Se fosse dizer com quem aprendi algo sobre a essência da criação, sobre a sua profundeza e a sua eternidade, só poderia mencionar dois nomes: o de Jacobsen, o grande, grande poeta, e o de Auguste Rodin, o escultor. (...) Niels Lyhne, quanto mais o lemos, mais parece que ele abarca tudo, do aroma mais suave da vida ao sabor grandioso e pleno dos frutos mais indigestos. Não há nada que não tivesse sido entendido, apreendido, experimentado e reconhecido pelas ressonâncias oscilantes das lembranças. (...) E depois deve ler o maravilhoso livro sobre o destino e as aspirações de Marie Grubbe.(...) Comece pela primeira novela do referido volume, que se chama “Mogens”. Um mundo vai se revelar ao senhor; a felicidade, a riqueza, a grandeza inconcebível de um mundo."
Mário de Andrade: "Há certas coisas que a gente carece de conhecer e gostar. Gostar de, faz parte da dignidade humana do indivíduo. Você precisa ler Camões, nos Lusíadas e nos sonetos pelo menos. E com ordem de gostar. Numa edição crítica boa. Você precisa ler, da mesma forma, Dante na Divina comédia inteira e na Vita Nuova. E Cervantes, o Goethe do Fausto e dos romances (si souber alemão também as tragédias e os lieder), está claro todo Shakespeare, e assim por diante. É impossível detalhar. Mas não são muitos não. E a Bíblia, por favor, não se esqueça! Enfim há uns dez homens essenciais, que a gente lê, gostando de antemão, com ordem de gostar, e gostando a posteriori. Faz parte da dignidade do ser. (...) Você precisa ler os clássicos portugueses. De preferência os antigos. (...) Ler os brasileiros, Meu Deus! aqui também entra a noção da dignidade do indivíduo. Me parece um pouco canalha a gente conhecer Anatole France e não ter lido as "Cartas Chilenas"; falar de Proust e não falar de Gregório de Matos ou Cruz e Souza. É mais uma questão humana de proximidade. E, já falei, creio, você precisa muito de ler Machado de Assis, mas ler com reler, roubando ele, plagiando ele, não no estilo nem no espírito mas na delicadeza de sentimento."
E a lista de livros só cresce 🤭🤗
"(...) Ler os brasileiros, Meu Deus! aqui também entra a noção da dignidade do indivíduo."
Me identifiquei muito com esse trecho. Tenho um carinho muito especial pela literatura nacional.