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Mensagem (Fernando Pessoa)

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Fernando Pessoa, escritor português que viveu de 1888 a 1935, é muito conhecido pelos seus heterônimos (autores ficcionais com características específicas), sendo os principais Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Bernardo Soares.


Em Mensagem, único livro em língua portuguesa publicado em vida pelo autor, não há a presença desses heterônimos (a obra é assinada pelo próprio Fernando Pessoa),  mas há uma personagem coletiva muito importante, o país Portugal.  É Portugal por meio de suas lendas, crenças e personalidades históricas a nos contar a sua própria história.


Dividida em 3 partes: Brasão, Mar português e O encoberto, essa epopeia moderna nos conta a história de Portugal em 44 poemas, desde o início da sua formação,  passando pelos tempos gloriosos das expansões marítimas e chegando ao período de decadência. Nessa trajetória, Pessoa resgata um mito muito importante para os portugueses e basilar para o entendimento dessa obra: O SEBASTIANISMO.


D. Sebastião

O sebastianismo é um sentimento nacionalista do povo português que acredita no retorno do Rei D. Sebastião (também nomeado de "O desejado" e "O encoberto") que morreu no norte da África lutando contra os mouros (muçulmanos também chamados na obra de "infiéis "). A morte desse rei que foi o 16o (décimo sexto) Rei de Portugal causou um grave problema ao trono lusitano,  uma vez que ele não deixou herdeiros, dando início a um período de dominação espanhola em Portugal e como seu corpo nunca foi encontrado, acreditava-se que ele retornaria para libertar o povo e levar Portugal novamente aos tempos de glórias e conquistas.


Esse mito tomou proporções tão gigantescas em Portugal que fez o povo português, inclusive o próprio Pessoa que se considerava um "sebastianista realista",  crer com uma esperança desmedida na volta desse messias,  desse salvador que tornaria Portugal até maior do que já foi um dia, tornando - se inclusive o Quinto Império, outro mito importante para o entendimento de Mensagem.


Os 4 (quatro) impérios (forças) que já governaram o mundo , Grécia, Roma, Cristandade e Europa ruíram e o povo português alimentava o sonho de surgir um quinto e último império que seria protagonizado por Portugal. Esse sonho seria possível com o regresso do encoberto, de D. Sebastião.


É com esse espírito saudosista e com essa esperança que aos poucos vai sendo esmaecida, que percorremos as páginas do épico Mensagem que foi publicado um ano antes da morte do autor (1934) com o intuito de participar de um concurso literário promovido pelo governo ditatorial de António de Oliveira Salazar através do Secretariado de Propaganda Nacional , o Prêmio Antero de Quental, ficando em segundo lugar devido a quantidade de páginas.


O BRASÃO


A primeira parte da obra chama-se Brasão e é composta por 19 poemas. Ela vai nos apresentar a história da formação  de Portugal através do simbolismo do Brasão da família real no século XII.


Brasão de Portugal - Foto da Internet

Ela subdivide-se em cinco partes, cada uma fazendo referência a uma parte específica do Brasão, sendo elas: Os campos , Os castelos, As quinas, A coroa e O timbre.


OS CAMPOS 


Os campos são a parte inferior do Brasão. Contém 2 poemas, onde o primeiro (o dos castelos) representa a materialidade e indica a posição geográfica do país e o segundo (o das quinas) representa a espiritualidade.


OS CASTELOS


Os castelos contém 8 poemas que homenageiam 8 heróis que ajudaram na construção do país e os seus feitos. O Brasão contém 7 castelos, mas há um castelo , o sétimo, que homenageia dois heróis diferentes.


O primeiro castelo homenageia o herói mitológico Ulisses que representa a lenda da fundação de Lisboa.


O segundo castelo homenageia Viriato, um herói real que enfrentou a expansão de Roma nas chamadas guerras lusitanas.


O terceiro castelo fala do Conde D. Henrique de Borgonha. Um Conde francês que herda o Condado Portucalense através do matrimônio com Teresa de Leão,  filha ilegítima de Afonso.


O quarto castelo fala justamente dela , Teresa de Leão ou D. Tareja, que governa o Condado Portucalense após a morte do marido (Conde D. Henrique), lutando contra o próprio filho.


O quinto castelo homenageia D. Afonso Henriques, o filho do Conde D. Henriques e D. Tareja. Após vencer a batalha de Ourique se autoproclama Rei de Portugal,  tornando - se Rei Afonso I , o conquistador ou o fundador.


O sexto castelo homenageia D. Dinis . Ele foi o 6o (sexto) Rei de Portugal. Filho de Afonso III e Beatriz de Castela, tornou - se importante por suas ideias inovadoras, tais como a criação da Marinha portuguesa e a fundação da primeira universidade.


O sétimo e último castelo homenageia D. João I e D. FIlipa de Lencastre, sua esposa. D. João I foi o 10o (décimo) Rei de Portugal e o primeiro da Casa de Avis, importante dinastia portuguesa. Ele se tornou conhecido por começar a expansão atlântica com a conquista de Ceuta. Com o casamento com D. Filipa de Lencastre surge uma nova geração monárquica (A casa de Avis). Eles tiveram oito filhos que eram considerados geniais,  entre eles D. Duarte,  D. Pedro, D. Henrique e D. Fernando  (o santo).


AS QUINAS


Composta por 5 poemas , essa subdivisão do Brasão nos apresenta cinco figuras históricas que  se sacrificaram por Portugal . As quinas representam as chagas de Cristo e por isso essa parte homenageia cinco mártires que sofreram pela Pátria.


A primeira quina homenageia o Rei Duarte I. Filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre,  D. Duarte assumiu o trono após a morte do primogênito (herdeiro do trono) quando criança  e governou Portugal por 5 anos , vindo a morrer de peste negra.


A segunda quina apresenta D. Fernando , Infante de Portugal. Filho caçula de D. Filipa de Lencastre e D. João I, é também chamado de "o infante santo", por ter sido preso  pelos mouros que exigiam do Rei de Portugal D. Duarte I (seu irmão) a devolução de Ceuta. Como isso não ocorreu , D. Fernando acabou sendo morto e ganhando a alcunha de Santo, porém nunca foi beatificado pela igreja.


A terceira quina conta a história de D. Pedro , regente de Portugal, que assumiu o trono português interinamente porque o verdadeiro herdeiro Afonso, filho do Rei Duarte I era criança na época da sucessão. Quando Afonso chega a idade de assumir o trono, há uma disputa entre tio e sobrinho a qual D. Pedro vem a morrer.


A quarta quina fala de D. João,  o infante de Portugal. Sétimo filho do famoso casal D. João I e D. Filipa de Lencastre,  nunca chegou a ser rei. Foi Condestável de Portugal (cargo militar) e sucessor de Nuno Álvares Pereira que iremos ver na parte A coroa.


A quinta e última quina é também a mais importante , pois nos apresenta D. Sebastião, importante Rei de Portugal que deu origem ao mito do sebastianismo já apresentado na parte inicial dessa resenha.


A COROA


Contendo apenas um poema, essa parte vai falar de Nun'Alvares Pereira ou Nuno Álvares Pereira, o mais importante líder militar de Portugal,  responsável por devolver a coroa  portuguesa aos verdadeiros herdeiros após o domínio da Espanha, retomando a independência de Portugal.  Virou santo da igreja católica chamado de São Nuno de Santa Maria.


O TIMBRE


Essa parte da obra contém 3 poemas tendo como referência o grifo (criatura mitológica que fica localizada na parte superior do Brasão), sendo a cabeça do grifo representava por O infante D. Henrique. Considerado o pai da era das grandes navegações,  D. Henrique ficou conhecido por ter criado uma escola náutica , onde desenvolveram técnicas e equipamentos de navegação que proporcionou a Portugal a oportunidade de exploração de outros mares.


A primeira asa do grifo homenageia D. João II. A asa indica a direção a ser seguida. D. João II foi o responsável por levar Portugal a um caminho diferente, focando as expansões marítimas não mais nas cruzadas contra os muçulmanos,  mas na exploração territorial (negócios).


A segunda asa do grifo homenageia Afonso de Albuquerque que foi considerado um gênio militar e responsável pelo monopólio comercial português na Índia.


E assim finalizamos a primeira parte da obra.



MAR PORTUGUÊS


Foto da Internet

A segunda parte de Mensagem contém 12 poemas e  não possui subdivisões. Os 10 primeiros poemas falam dos tempos gloriosos de Portugal,  o período das expedições marítimas das grandes navegações até a ascensão de Vasco da Gama, sendo que o penúltimo (A última nau) irá falar do período de decadência em que Portugal se encontrava na época de Pessoa, finalizando com uma prece para que os tempos de glórias retornem. 


Nessa parte encontramos retratadas grandes personalidades da história portuguesa como Diogo cão, Bartolomeu Dias e Fernão de Magalhães.


Mar português,  poema que leva o mesmo nome da segunda parte da obra, é um dos poemas de Fernando Pessoa mais conhecidos e um dos mais bonitos.



O ENCOBERTO


A terceira e última parte do livro é sebastianismo puro. O encoberto é como também era chamado D. Sebastião e essa parte irá tratar dessa esperança do povo português no retorno do rei para tirar Portugal da decadência e lhe devolver a glória. Uma esperança cansada como veremos no último poema.


Essa parte contém 13 poemas subdivididos em 3 partes : os símbolos, os avisos e os tempos.


Os símbolos contém 5 poemas e fazem referências a cinco símbolos de esperança para o renascimento de Portugal, sendo os mais importantes D. Sebastião e O Quinto Império.


Os avisos contém 3 poemas que falam de 3 profecias para Portugal na figura de 3 profetas: Bandarra (um homem simples, sapateiro, que escrevia versos proféticos), Padre Antônio Vieira pelo seu Sermão a São Sebastião e o terceiro que não possui nome é atribuído ao próprio Fernando Pessoa.


Os tempos é a última subparte da última parte do livro.  Nela há a ideia de uma progressão temporal começando pela noite e indo até a antemanhã (período do dia que antecede o nascer do sol) , onde a noite representa o período de dificuldades,  de tormentas e a manhã representaria a claridade , a calmaria, porém essa manhã nunca chega,  uma vez que o autor finalizada a obra em um nevoeiro.


Fernando Pessoa conclui a sua obra nacionalista com um tom de desilusão. O nevoeiro é onde se encontra o povo português,  sem forças para lutar , "sem distinguir quem é e que alma tem", uma alma de conquistador.


O último verso do último poema é uma exortação aos lusitanos para sair dessa apatia e lutar para sair desse período de incertezas, um período que como vimos , era de ditadura.


Foto autoral

Mensagem nos conta a história de Portugal do apogeu à queda de uma maneira repleta de misticismos e simbolismos bem ao gosto do autor, além de importantes referências à mitologia grega e romana e à lenda de Rei Arthur.


Vale muito a pena a leitura 📚


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2 則留言

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patriciamilanis
patriciamilanis
2023年9月27日

Que legal Naty, não tinha conhecimento sobre o tema do livro. Muito interessante e ainda mais por serem poemas.

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A leitora Clássica
A leitora Clássica
2023年10月17日
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Eu amei essa leitura.. Pessoa falando sobre a terra dele foi um primor de leitura

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