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Feliz dia dos professores!

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Atualizado: 23 de out. de 2024


Conheci Rubem Alves através de uma postagem no Facebook. Não lembro exatamente o ano porque faz bastante tempo,  mas estava "rolando o feed" (sim, esse mal é antigo) quando li um texto que dizia assim:


"Somos donos dos nossos atos, mas não donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não pelo que sentimos. Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos. Atos são pássaros engaiolados. Sentimentos são pássaros em voo."

Esse texto me tocou tão profundamente que, de imediato, me pus a procurar a sua fonte. Cheguei, então, ao nome de Rubem Alves e foi amor à primeira vista. "Amor"  foi justamente a sua primeira obra que tive o prazer de ler, um livrinho de fragmentos onde consta o trecho acima.


A cada texto seu que eu lia, minha alma se alimentava de uma sensação inexplicável. Rubem me impulsionava a desbravar o mundo e incutia em mim o gosto das palavras e o desejo do voo que estava escondido na minha tão cartesiana forma de ser e de pensar.


Depois fui conhecer sua biografia e descobri sua ligação com a psicanálise e a educação e pensei : está explicado. Rubem Alves me educou na faculdade da vida.


Ele não via a educação meramente como uma forma de aquisição de conhecimento científico e preciso. Ele via a educação como um processo ligado à vida. Educar para viver melhor. Educar, não para fornecer ao outro o que se sabe, mas o que (de certa forma) não se sabe porque a educação está muito mais ligada às perguntas que às respostas.


Aquele que ensina só o que sabe nunca será um bom educador.


Assim como também aquele que dá as respostas. As repostas estão nos livros. O bom educador desperta a curiosidade, o desejo de saber.


Desperta o desejo. Um professor que não desperta o desejo não ensina a pensar porque o desejo é a mola do pensamento e aquilo que é aprendido fica para sempre na memória, pois a memória só guarda aquilo que está no coração e o coração só vai em busca daquilo que deseja.



É por isso que dizemos que sabemos algo "de cor" quando não o esquecemos. "De cor" vem da palavra latina cor, cordis, que quer dizer, de coração.


"A cabeça pode esquecer,  mas aquilo que foi aprendido com o coração não é esquecido nunca."

Nessa mesma ideia de uma educação que se funde com o viver, aprendi com um amigo meu professor de filosofia, que a educação está ligada ao cuidar. Não o cuidar pelo cuidar, mas educar para que o outro desenvolva a capacidade de se cuidar.


Tanto no pensamento do meu amigo quanto o do meu mestre Rubem Alves, a educação é o chão, a base para formar sujeitos autônomos. Sujeitos que sabem se cuidar e, consequentemente,  sabem viver.


É por isso que Rubem Alves foi, também, um grande crítico do sistema educacional brasileiro. Um sistema que coloca o pensamento em gaiolas e que não produz afeto.


Afeto que vem do latim affecare que significa "ir atrás". O afeto é que impulsiona a alma em busca do objeto do seu desejo. Sem essa experiência afetiva não há aprendizagem.


Na minha jornada de leitora e de leitora moldada na escola "rubemiana", nunca me fugiu a ideia de que a leitura, assim como a educação,  não nos alimenta e sacia (como comumente pensamos). Ao contrário,  ela nos dá fome.


Assim é o bom educador. Não é aquele que sacia com respostas prontas,  mas que provoca a fome que produz o afeto, o "ir atrás ".



É por isso que Rubem Alves dizia no seu livro "Variações sobre o prazer" (meu livro favorito do autor) que nossa relação com a leitura deve ser quase gastronômica. Ele comparava a sabedoria à arte da degustação e foi aprendendo a degustar, selecionar, escolher, não querer mastigar e engolir tudo, que me tornei a leitora que sou.


E mais que isso. Quando penso em todo o seu legado,  vibra em mim o desejo de lecionar.


Se hoje curso licenciatura, ele tem a sua "parcela de culpa."


Educar, ele dizia, é uma espécie de imortalidade. Ele se imortalizou na mente e no coração daqueles que educou. 


Parafraseando a sua fala ao responder porque gostava tanto de Nietzsche:


"Amo Nietzsche por causa disto. Quando ele fala, meu corpo vibra. E diz: “É isso mesmo”.

Digo também, é isso mesmo, Rubem.  É isso mesmo.

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4 commentaires

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patriciamilanis
patriciamilanis
17 oct. 2024

Que lindo teu post Naty 💜👏

Parabéns a todos os Professores/Educadores que ensinam para a vida!!!

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Obrigada Paty ❤️🫶

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Jéssica Linhares
Jéssica Linhares
15 oct. 2024
Noté 5 étoiles sur 5.

Nathy ,como sempre, seus textos são de uma beleza e sensibilidade impactante! Eu como professora me sinto muito feliz com a sua homenagem, e sei o quanto é árdua a jornada do Educador. E Rubens é espetacular em todas as suas obras ele nos traz reflexões sobre como podemos despertar nossos alunos, afinal , nós Educadores não os ensinamos apenas para uma prova, e sim para vida!

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Verdade amiga. Educar é muito mais que ensinar o que se sabe. Feliz dia dos professores!

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