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Eu grifo livros

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Estou fazendo a leitura do livro "O vício dos livros" do Afonso Cruz (escritor português e autor de "Vamos comprar um poeta" que já tem resenha aqui no blog) e logo no início do primeiro ensaio ele aborda uma questão que me fez refletir .


Ele disse


" Há leitores que anotam os livros, que sublinham, que arrancam páginas, que os enrolam como se fossem revistas , há leitores que dobram os cantos (como eu, mas esse é o gesto mais violento que imponho a um livro. Escrever nas margens, por exemplo, parece-me uma espécie de tatuagem de que me envergonharei no futuro, quando voltar - ou se voltar - a encontrar-me com ele). Por isso, a descoberta de uma página de um romance anotada de alto a baixo pareceu-me especialmente estranha. "

Anotações em Noites Brancas (Dostoiévski)

Eu costumo marcar meus livros. Grifo, anoto nas margens,  uso flags.  Tudo isso faz parte do meu processo de leitura ativa. Tenho a impressão de que tomei posse realmente do livro e do seu  conteúdo e que não fiquei na posição de uma leitora passiva que espera simplesmente que o autor me diga algo.


Eu tenho, por exemplo, a minha própria "Madame Bovary", construída a partir da minha interação com o texto.


Fiquei, então, pensando qual a minha relação com esses grifos , marcações, marginálias.


Peguei meus livros na estante e passei horas nesse processo de "me ler" através deles.


Noites Brancas (Dostoiévski)

Ao contrário do escritor português, não tive um sentimento de estranhamento ao me deparar com essas páginas. Era eu, pura e simplesmente. Vergonha também passou longe das minhas reações.


Senti-me como se estivesse conversando com uma amiga distante... alguém que já foi muito importante para mim, mas que pelo próprio percurso da vida havia perdido contato.


E esse reencontro foi lindo sim e em alguns momentos desconfortável também.


Eu sempre reli os trechos marcados nos meus livros em busca de referências, mas raramente em busca de mim mesma. É um exercício que quero colocar mais em prática.


Como disse José Saramago,


" É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós."

Marcar , anotar nos livros,  é uma excelente maneira de ler a si mesmo através deles. Experimente.


E com um bônus de que, ao final desse processo, o livro passa a ser "o seu livro" , um exemplar único no mundo.


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4 Comments

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patriciamilanis
patriciamilanis
Jan 05, 2024

Algo um tanto polêmico este assunto, confesso que grifos e anotações não é algo que faço nos livros físicos. Por isso prefiro os digitais, me sinto mais confortável em gritar e fazer notas neles hahaha 😅 Mas pode ser que com o tempo eu venha a mudar esse hábito.

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Hahaha é polêmico mesmo amiga.. eu já não curto muito livros digitais pq não consigo anotar neles.. tenho dificuldade em anotar no kindle

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Guest
Aug 06, 2023

Gostei muito da sua resenha , também discordo da colocação do autor sobre grifar o livro.O grifo a mim conota sobre a percepção que eu tive sobre aquela narrativa,em alguns momentos chego a discordar da fala e assim assumo meu papel de leitor interativo.

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Perfeito 👏👏👏

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