Estive no cinema com minha irmã e minhas filhas para assistir ao filme da Barbie. Queríamos viver essa experiência juntas. A boneca da Mattel marcou a nossa infância (da minha irmã e minha) e seus filmes acompanharam minhas filhas durante muitos anos.
É uma memória que guardamos em comum.

E por falar em memória, uma das muitas referências citadas no filme é sobre a memória involuntária de Marcel Proust ou, como também é conhecida, memória proustiana.
Em "Contra Saint -Beuve" , Proust vai explicar a memória involuntária nesses termos:
" O que a inteligência nos apresenta sob o nome de passado, não o é. Em realidade, como ocorre com as almas dos mortos em certas lendas populares, cada hora de nossa vida, assim que finda, encarna-se e esconde-se nalgum objeto material. E lá permanece cativa, a menos que descubramos o objeto. Por meio dele, a reconhecemos, a conclamamos, e ela se liberta. O objeto em que ela se esconde - ou a sensação, pois todo objeto é, com relação a nós, sensação - pode nunca ser encontrado. E assim, há horas de nossas vidas que não ressuscitarão jamais. "

No filme, a boneca Barbie é enviada ao mundo real para tentar salvar a Barbielândia. Sua missão é consertar o portal que liga seu mundo ao mundo real.
A viagem para o mundo real acaba colocando a Barbie estereotipada em conflito consigo mesma e a faz embarcar também em uma jornada de autodescoberta.
Os empresários da Mattel sabendo que a Barbie está no mundo real tentam capturá-la para devolvê-la ao seu universo e para isso ela precisa ser colocada dentro da caixa.
Ao entrar na caixa, Barbie menciona sobre o cheiro que a mesma possui e o associa a uma memória proustiana. O CEO da Mattel nesse momento relembra o quanto a "Barbie de Proust" vendeu mal.
Apesar da referência, a empresa nunca fez uma Barbie de Proust. A diretora Greta Gerwig em entrevista a AP News falou que isso não foi algo aleatório e que a escolha se baseou no episódio da madeleine que está em "No caminho de Swann ", primeiro volume do Em busca do tempo perdido.
Achei muito interessante encontrar a menção à Proust no filme e fiquei imaginando como seria a Barbie Proust se ela tivesse realmente existido.
Encontrar referências inesperadas e conseguir entendê-las é o auge da experiência literária para mim.