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Aniversário Lygia Fagundes Telles

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica


Hoje, 19/04, comemora-se o aniversário de nascimento de Lygia Fagundes Telles


Minha última leitura da autora foi da obra "Durante aquele estranho chá" que reúne 21 histórias que resgatam encontros e diálogos enriquecedores que Lygia teve  com personalidades como Clarice Lispector,  Hilda Hilst,  Jorge Luís Borges, Simone de Beauvoir , entre outros.


A crônica que dá nome ao livro refere-se a um encontro de Lygia com o escritor Mário de Andrade em uma confeitaria no centro de São Paulo no ano de 1944.


" Levantou a mão e me atalhou, suplicante: Ouça, o que é mais importante para você, ser considerada mais bonita ou mais inteligente? Respondi sem pestanejar: Mais inteligente! Então ele riu o riso mais comprido daquela tarde, ah! como eu era bobinha! Livresca e bobinha. A beleza é tão importante, menina. Sei o que estou dizendo, eu que sou um canhão!

A crônica que mais me emocionou foi "Onde Estivestes de Noite?" Crônica esta que abre o livro. Nela, Lygia vai nos contar como recebeu a notícia da morte de Clarice Lispector, sua amiga de longa data. Uma forma tão linda e sensível que me levou às lágrimas.


Ela também vai falar das suas lembranças com Clarice, de uma viagem que fizeram juntas para a Colômbia para um congresso de escritores quando Clarice se queixou do falatório dos congressistas . "Essa gente fala demais !" e as duas fugiram para irem às compras. Eu ri muito com esse episódio. Me veio à memória Clarice dizendo isso com a sua voz com sotaque devido a língua presa.


"As recordações de Clarice. No último bilhete que me escreveu, naquela letra desgarrada, pediu: Desanuvie  essa testa e compre um vestido branco!"

Nas demais crônicas aparecem personalidades como Jean - Paul Sartre e Simoni de Beauvoir,  Machado de Assis, Drummond, até Dostoiévski e meu querido Belchior (trecho de uma música sua) tiveram suas menções.


O livro também traz o discurso de posse na Academia Brasileira de Letras da nossa ocupante da cadeira No 16, na íntegra.


Vou deixar alguns trechos esparsos que me marcaram durante a leitura:


"Revejo Simone de Beauvoir com aquele olhar tão sério e tão inquisidor, perguntando. Perguntando. E na obra da escritora está a sua tranquila resposta, obra inteira estruturada na certeza de que a imortalidade seria a morte da própria vida. Só a ideia de que vamos morrer um dia, só essa ideia pode fazer a nossa existência mais feliz."


"Disfarçadamente limpei os farelos na toalha de linho e desatei a falar nos russos, não podia negar, gostava demais de Dostoiévski e de toda aquela raça."


"A paixão pela literatura transbordava nos livros da sacola de lona e couro que trazia dependurada no ombro, tinha sempre alguns livros nessa sacola de caminheiro. E fazia comentários sobre esses autores, tantos planos de roteiros: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego..."


"E agora penso que o importante na amizade talvez seja apenas isso, um tem que achar graça no outro porque nessa bem-humorada ironia está o próprio sal da vida. Quando essa graça desaparece é porque a amizade acabou."


"Todo homem tem medo de mulher inteligente, filha. Só os que não pensam em casamento é que ficam amigos da gente, ela advertiu. Sem saber, é claro, que ao seu modo dizia o que já dissera o poeta Baudelaire, Aimer des femmes intelligentes est un plaisir de pédéraste..."


"Há uma soma de seres que amei e que já se foram mas de um certo modo eles ficaram em mim, é difícil explicar mas eu diria assim que essa é uma espécie de legado e me impregnei desse legado lá no infinito que nos habita, a alma."


"Leitor e cúmplice. A ele ofereço um pensamento do Padre Antonio Vieira, aquele que amou o índio como a si mesmo: “Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras”.


É isso, leitores! Fica aqui a minha singela homenagem àquela que é considerada a "dama da literatura brasileira " Tenho certeza que quem se interessar em ler esse livro,  perceberá que é uma leitura deliciosa.


Continuo guardando no coração o desejo de,  no futuro, ler todas as obras da autora  em ordem cronológica, especialmente seus romances.


Happy Birthday, Lygia. IMORTAL!



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