O #lendocontonaquinta de hoje traz um conto muito impactante do genial Guimarães Rosa e de antemão, já digo que foi um dos contos mais difíceis que já li.
Esse também foi meu primeiro contato com a escrita de autor que é bem diferente do convencional.
Valeu a pena a insistência e as três leituras que fiz do conto, pois é maravilhoso.
Mas quem é Augusto Matraga?
Já na primeira linha do conto o autor nos diz que , "Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves , filho do Coronel Afonso Esteves, das Pindaíbas e do Saco - do - Embira. Ou Nhô Augusto - o homem".
Filho de um rico fazendeiro, o coronel Afonsão (no sertão, os coronéis mandavam e desmandavam pela força), órfão de mãe, foi criado pela avó que desejava que ele fosse Padre. Nessa fase, no Arraial do Murici, Augusto ainda é Augusto Esteves.
Com a morte do pai, Augusto Esteves passa a ser Nhô Augusto, Nhô de Senhor. Casado com dona Dionóra e pai de uma menina , Nhô Augusto é um homem prepotente e autoritário e que apesar da família já ter perdido parte de seu poder econômico, ainda impõe medo na região, usando sua força e poder para humilhar a todos.
Em um casamento infeliz, abandonada em casa por Nhô Augusto , Dionóra decide pegar a filha e ir viver com outro senhor de uma localidade próxima.
E como esse conto /novela trata de uma transformação pessoal de um ser em outro, a queda é algo inevitável.
Nhô Augusto descobre a fuga de Dionóra e decide sair em vingança. Manda Quim Recadeiro chamar seus capangas, e se surpreende ao saber que eles também o deixaram, não ficou nenhum, todos foram servir ao inimigo de seu pai, o Major Consilva.
Apesar de ainda ter "um nome", Nhô Augusto não tinha mais dinheiro e "os laços que prendem o respeito de uns para com os outros são, as mais das vezes, laços de necessidade" .
Cego de ódio, sem família, sem dinheiro e sem homens de confiança, Nhô Augusto sai em busca de vingança contra Major Consilva. Ao chegar na fazenda inimiga, os homens do coronel (que eram seus antigos capangas) já estavam de prontidão.
A mando do patrão e aliado a motivações pessoais, Nhô Augusto, o homem, é humilhado, espancado, marcado a ferro, jogado de um penhasco, mas mesmo muito machucado consegue fugir.
É a partir daqui que começa a expiação dos seus pecados. Acolhido e curado por um casal que o adotaram como filho (mãe Preta Quitéria e pai Preto Serapião) e tocado pela palavra de um Padre, Nhô Augusto decide esperar a sua hora e a sua vez reparando o mal que fez, trabalhando de sol a sol para os outros durante o dia e rezando durante a noite.
Mas essa transformação completa de Nhô Augusto em Matraga não será tranquila. É preciso lutar contra o bem e o mal que nos habita, constantemente.
Nhô Augusto decide, então, que chegou a hora de partir e sai em um jumentinho em busca do seu destino e acaba por encontrar, no Arraial de Rala Coco a sua oportunidade de redenção.
É uma história muito bonita, porém não tão simples de ler devido o estilo do autor como falei no início, mas essa foi a minha experiência de leitura, talvez você não tenha a mesma dificuldade.
Quero agora assistir a adaptação, filme de 1965. Está disponível no YouTube.
"Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa mais a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria…Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua."