Esse foi meu primeiro contato com a escrita de Henry James e que escrita difícil. Difícil por ser sutil e não estamos habituados com a sutileza.
No posfácio dessa edição muito bem escrito por Modesto Carone, ele disse algo que fez muito sentido para mim no decorrer da leitura: que a escrita do James é comparada a Machado de Assis ("sua alma irmã nesse hemisfério").
A Fera na selva é uma novela que conta a história de um casal de amigos, John Marcher e May Bartram. John acredita que é um homem destinado a viver uma experiência extraordinária, única, que estaria predestinada apenas para ele , algo prodigioso e terrível que poderia o aniquilar e passa a sua vida à espera desse destino raro e excepcional que ele chama de "o bote da Fera" . May resolve esperar com ele.
Mas antes de voltarmos à história, uma reflexão para pensarmos juntos: Eu tenho 45 anos. Quantos deles eu vivi? Dos anos que compõem a tua idade, quantos deles foram vividos? Quantos tu deixates em suspenso à espera do "grande acontecimento"? Da "coisa extraordinária"?
Às vezes não nos tocamos que a felicidade pode estar justamente nos dias comuns.
John Mancher, em sua visão egocentrada da vida, tinha tanto medo do fracasso e foi justamente por isso que fracassou. Acreditava ter sido reservado para si um grande destino por que no fundo tinha medo de ser medíocre. Não conseguia ver mesmo diante dos seus olhos todo o amor, a entrega, a abnegação de May Bartram por que era simples demais. Não poderia ser isso "a coisa".
Não conseguia enxergar por que não enxergava ninguém além de si mesmo e foi somente no final da história, quando ele reconhece a dor no olhar de outra pessoa, quando ele se abre a essa experiência que viver é um exercício coletivo, foi que finalmente ele descobriu o que havia perdido.
Esse livro mais que uma história "do que poderia ter sido" , é um alerta. Ele nos avisa que na selva que é a nossa vida terão sempre diversas feras , mas a mais feroz , implacável e cruel que existe é a que alimentamos todos os dias com nosso egoísmo e a nossa indiferença.
Indico também a adaptação cinematográfica que conta com a participação de Paulo Betti e Eliane Gardini nos papéis principais. Cinema nacional da mais alta qualidade.
Não sejamos indiferentes diante da vida. O "grande acontecimento " , "aquilo " , "a coisa extraordinária" é viver.
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Já entrou na minha lista. Ótimas considerações amiga.
Vou ler e volto aqui para comentar.
"A felicidade reside no ordinário."